@article{99903, author = {Rodrigues da Cunha P and Batista de Souza W and Da Silva EH and Cardoso Cabral L and Carmo de Oliveira JE and Guilherme de Castro Silvério M and Bisinotto Gomes J and De Villa Camargos G}, title = {Hanseníase e Odontologia: Revisão Narrativa de Literatura}, abstract = {

Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa granulomatosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae. Essas bactérias afetam principalmente a pele, mucosas e os nervos periféricos, onde a temperatura do corpo é mais fria. Quando o diagnóstico e tratamento precoces não ocorrem, a hanseníase pode causar deformidades físicas irreversíveis e consequente exclusão social, portanto sua notificação é compulsória. A transmissão se dá quando uma pessoa contaminada e sem tratamento na forma infectante da doença, elimina bacilos através das vias aéreas superiores. Logo, o estudo da hanseníase na odontologia é fundamental, já que os profissionais dessa área atuam em contato direto com o paciente por meio da cavidade oral. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país com maior registro de novos casos no mundo, sendo responsável por aproximadamente 80% dos novos casos de hanseníase detectados no mundo nos últimos anos, em conjunto com a Índia e Indonésia. Tal fato torna a hanseníase um problema de saúde pública.

Objetivo: Este trabalho objetivou realizar uma revisão da literatura, destacando a relação da hanseníase quanto a classificação e formas clínicas da doença; alterações sensoriais de interesse odontológico; manifestações orais; impacto do tratamento da hanseníase e tecnologias assistivas na saúde oral.

Metodologia: as pesquisas foram realizadas através da plataforma Pubmed, combinando descritores MeSH (Medical Subject Heading) e DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), como “Dentistry” AND “Leprosy”. Dois revisores avaliaram de forma conjunta os títulos e resumos dos estudos, selecionado aqueles que relacionava hanseníase e odontologia. Não houve restrições quanto ao tipo de estudo ou ano de publicação dos artigos. Em relação a língua, apenas os artigos escritos em inglês ou português foram incluídos na revisão e, aqueles relacionados ao tema proposto.

Revisão da literatura: A hanseníase é classificada em quatro formas clínicas, variando de acordo com a resposta imunológica do paciente frente ao agente causador: 1 - Hanseníase Indeterminada: normalmente encontram-se lesões na pele com tom mais claro do que o normal, redução da sensibilidade à dor, calor e tato. Alguns casos também podem apresentar alopecia e anidrose. 2 - Hanseníase Tuberculóide: se desenvolve apenas em pacientes com alta resposta imunológica ao bacilo, apresentando lesões únicas ou em pouca quantidade na pele, as quais podem apresentar perda de sensibilidade, alopecia e anidrose. 3 - Hanseníase Dimorfa: forma intermediária que acomete vários nervos periféricos e apresenta muitas manchas avermelhadas com centro mais claro e sem sensibilidade pelo corpo. Pode causar fraqueza nos músculos da perna (dificultando o andado), perda de sensibilidade nos pés, mãos com aspecto mais magro e fraco. 4 - Hanseníase Wirchowiana: se desenvolve em pacientes com baixa resposta imunológica ao bacilo de Hansen, fazendo com que ele se multiplique lentamente. Nesse caso, a pessoa infectada apresenta pode apresentar caroços sem qualquer sintomatologia dolorosa, manchas, inchaço e vermelhidão nas pernas, secura na pele dos braços e pernas, febre, dor nas articulações, câimbras, sensação de queimação/frio, presença de crostas e sangramento no nariz que não cessa com remédios para gripe comuns. Pode haver acometimento de nervos importantes do corpo, que ocasiona anestesia de mão e pés, favorecendo traumatismos e ferimentos e leva a um quadro mais grave. O diagnóstico é clínico, feito com base na identificação de lesões cutâneas com ausência de sensibilidade por todo corpo, incluindo as mucosas oral e nasal. O tratamento da hanseníase é baseado em poliquimioterapia (PQT) e no esquema padronizado pela OMS e MS são as drogas: rifampicina (bactericida), dapsona e clofazimina (bacteriostáticos). Esses medicamentos contribuem para a redução das lesões, mas em contrapartida provocam a redução do fluxo salivar, o que aumenta o risco ao paciente desenvolver infecções na cavidade oral. Além desses efeitos colaterais, o paciente portador da hanseníase pode ter sequelas neurais e físicas irreversíveis que dificultam ou até impossibilitam o uso da escova de dente convencional e o fio dental. As incapacidades provocadas prejudicam a vida social e a qualidade de vida dos indivíduos afetados por elas. O dano aos nervos cranianos, como o trigêmeo e facial, pode afetar a cavidade bucal com a parestesia do lado comprometido. Quando os ramos mandibular e bucal são comprometidos, causam alterações na fala e mastigação. As lesões orais são mais evidentes na forma Lepromatosa, apresentando úlceras, pápulas, perfurações, cicatrizes, enantemas, lepromas e erosões superficiais e afetam principalmente o palato duro (75% dos casos). Adicionalmente, alterações esqueléticas podem comprometer o processo pré-maxilar alveolar e quando associadas com a má higienização, podem levar a perda dos incisivos superiores. Portanto, é imprescindível o acompanhamento do cirurgião-dentista durante todo o tratamento afim de reduzir as reações hansênicas desencadeadas por processos inflamatórios provenientes de infecções dentais e/ou doenças periodontais e procurar meios de otimizar a capacidade de higienização do paciente com hanseníase frente as suas condições e limitações por meio de dispositivos que permitam tal ação. É importante que os profissionais da odontologia tenham ciência dos sinais e sintomas relacionados a hanseníase, possibilitando o encaminhamento para diagnóstico e tratamento da doença, além de planejar a conduta adequada para o paciente, levando em consideração suas possíveis limitações e atenção necessária.

Conclusão: a odontologia tem um papel importante na prevenção, diagnóstico e tratamento da hanseníase, e deve ser integrada de forma mais abrangente aos programas de saúde pública e no currículo de odontologia para combater efetivamente esta doença e proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes infectados.

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