04492nas a2200193 4500000000100000008004100001260005800042653001600100653007200116653001500188653001200203653001600215653001400231653001600245653002100261100001600282245013300298520386700431 2023 d bEDUFU - Editora da Universidade Federal de Uberlandia10aHanseníase10aEfeitos colaterais relacionados a medicamentos e reações adversas10aRifampicin10aDapsone10aClofazimine10aOfloxacin10aMinocycline10aEstudo de coorte1 aCelestino I00aReações adversas aos medicamentos de dois esquemas de tratamento da hanseníase em um Centro de Referência Nacional do Brasil3 a

Introdução: O tratamento padrão preconizado para a hanseníase é a poliquimioterapia (PQT/OMS), constituído por Rifampicina+Dapsona+Clofazimina. Outros medicamentos são recomendados em casos de resistências, reações adversas e intolerâncias, entre eles o esquema ROM, Rifampicina+Ofloxacino+Minociclina. Sendo assim, a farmacovigilância é uma importante ferramenta para entender essas reações adversas medicamentosas (RAMs), subsidiando o manejo da farmacoterapia e a segurança no uso dos medicamentos.

Objetivos: Avaliar as RAMs comparando dois esquemas terapêuticos, PQT padrão e ROM, utilizados no tratamento dos pacientes com hanseníase, analisando os fatores prognósticos quanto ao risco e segurança.

Material e métodos: Um estudo de coorte retrospectivo avaliou prontuários de 433 pacientes diagnosticados com hanseníase no período de 2010 a 2021 em um Centro de Referência Nacional do Brasil, e que fizeram regime de 24 meses ou mais de tratamento com esquemas PQT e ROM. As avaliações das reações adversas foram analisadas por dois pesquisadores experientes, que incluíram variáveis clínicas e laboratoriais correlacionando com a temporalidade, gravidade e os critérios de causalidade de Naranjo e da OMS. Foram realizados teste de D’Agostino-Pearson, teste binominal, teste de Friedman, curvas de Kaplan Meier e regressão de Cox tempo dependente com risco proporcional (hazard ratio) para análise multivariada de fatores prognósticos.

Resultados: Do total de pacientes, 23,8% (103/433) tiveram 134 RAMs ao longo do tratamento, com uma média de 1,3 reação/paciente. A mediana de tempo para apresentação da RAM na PQT foi de 79 dias, enquanto para o esquema ROM de 179 dias. Na primeira reação a Dapsona foi o medicamento mais envolvido nos casos; os sistemas mais afetados foram hematopoiéticos (36,8%; 38/103), gastrointestinal (21,3%; 22/103) e dermatológico (17,4%; 18/103); 42,7% (44/103) foram leves, 26,2% (27/103) moderadas e 31,1% graves (32/103), sendo uma com desfecho letal. Em pacientes que apresentaram duas ou mais RAMs, a Rifampicina foi o principal medicamento causador; os sistemas afetados foram dermatológicos (43,3%; 10/23), gastrointestinal (30,4%; 7/23) e hematopoiético (13%; 3/23) e a maioria foram classificadas como moderadas (43,4%; 10/23) e leves (43,4%; 10/23). No algoritmo de Naranjo e causalidade da OMS, a maioria das RAMs, tanto na primeira quanto nas subsequentes, foram classificadas como causas prováveis e possíveis. Os resultados apontaram que o uso da Clofazimina aumentou o risco de causar RAMs quando associada a qualquer outro medicamento: 7% quando utilizado junto a Dapsona (HR:1,07; p=0,866); 31% concomitante ao uso da Rifampicina (HR:1,31; p=0,602) e 35% junto ao Ofloxacino (HR: 1,35; p=0,653). Por outro lado, a Minociclina reduziu o risco de RAMs em 44% dos pacientes (HR de 0,56; p=0,527) em comparação a Clofazimina, apesar de não alcançar significância estatística. O uso do PQT conferiu 2,51 vezes maior risco de desenvolver RAMs. Todos os casos de RAM foram notificados no VigiMed.

Conclusão: A PQT causou mais RAMs quando comparada ao esquema ROM, sendo essas mais graves e assim, conferiu menor segurança para os pacientes em tratamento com esse esquema. A Dapsona foi o medicamento que mais causou RAM, seguida pela Rifampicina. À associação com a Clofazimina foi imputada um risco adicional de RAMs, necessitando mais estudos com maior casuística para comprovar essa hipótese. Pela alta magnitude das RAMs as equipes de saúde necessitam acompanhar clinicamente e laboratorialmente os pacientes em tratamento de hanseníase com atenção à farmacovigilância, para diagnostico e manejo oportuno.