06993nas a2200229 4500000000100000008004100001260005300042100002500095700002300120700001600143700002100159700002500180700003600205700002200241700002400263245006400287856007100351300000800422490000700430520631200437022001406749 2024 d bConselho Regional De Odontologia De Minas Gerais1 aRodrigues da Cunha P1 aBatista de Souza W1 aDa Silva EH1 aCardoso Cabral L1 aCarmo de Oliveira JE1 aGuilherme de Castro Silvério M1 aBisinotto Gomes J1 aDe Villa Camargos G00aHanseníase e Odontologia: Revisão Narrativa de Literatura uhttps://revista.cromg.org.br/index.php/rcromg/article/view/408/148 a1-50 v223 a

Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa granulomatosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae. Essas bactérias afetam principalmente a pele, mucosas e os nervos periféricos, onde a temperatura do corpo é mais fria. Quando o diagnóstico e tratamento precoces não ocorrem, a hanseníase pode causar deformidades físicas irreversíveis e consequente exclusão social, portanto sua notificação é compulsória. A transmissão se dá quando uma pessoa contaminada e sem tratamento na forma infectante da doença, elimina bacilos através das vias aéreas superiores. Logo, o estudo da hanseníase na odontologia é fundamental, já que os profissionais dessa área atuam em contato direto com o paciente por meio da cavidade oral. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país com maior registro de novos casos no mundo, sendo responsável por aproximadamente 80% dos novos casos de hanseníase detectados no mundo nos últimos anos, em conjunto com a Índia e Indonésia. Tal fato torna a hanseníase um problema de saúde pública.

Objetivo: Este trabalho objetivou realizar uma revisão da literatura, destacando a relação da hanseníase quanto a classificação e formas clínicas da doença; alterações sensoriais de interesse odontológico; manifestações orais; impacto do tratamento da hanseníase e tecnologias assistivas na saúde oral.

Metodologia: as pesquisas foram realizadas através da plataforma Pubmed, combinando descritores MeSH (Medical Subject Heading) e DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), como “Dentistry” AND “Leprosy”. Dois revisores avaliaram de forma conjunta os títulos e resumos dos estudos, selecionado aqueles que relacionava hanseníase e odontologia. Não houve restrições quanto ao tipo de estudo ou ano de publicação dos artigos. Em relação a língua, apenas os artigos escritos em inglês ou português foram incluídos na revisão e, aqueles relacionados ao tema proposto.

Revisão da literatura: A hanseníase é classificada em quatro formas clínicas, variando de acordo com a resposta imunológica do paciente frente ao agente causador: 1 - Hanseníase Indeterminada: normalmente encontram-se lesões na pele com tom mais claro do que o normal, redução da sensibilidade à dor, calor e tato. Alguns casos também podem apresentar alopecia e anidrose. 2 - Hanseníase Tuberculóide: se desenvolve apenas em pacientes com alta resposta imunológica ao bacilo, apresentando lesões únicas ou em pouca quantidade na pele, as quais podem apresentar perda de sensibilidade, alopecia e anidrose. 3 - Hanseníase Dimorfa: forma intermediária que acomete vários nervos periféricos e apresenta muitas manchas avermelhadas com centro mais claro e sem sensibilidade pelo corpo. Pode causar fraqueza nos músculos da perna (dificultando o andado), perda de sensibilidade nos pés, mãos com aspecto mais magro e fraco. 4 - Hanseníase Wirchowiana: se desenvolve em pacientes com baixa resposta imunológica ao bacilo de Hansen, fazendo com que ele se multiplique lentamente. Nesse caso, a pessoa infectada apresenta pode apresentar caroços sem qualquer sintomatologia dolorosa, manchas, inchaço e vermelhidão nas pernas, secura na pele dos braços e pernas, febre, dor nas articulações, câimbras, sensação de queimação/frio, presença de crostas e sangramento no nariz que não cessa com remédios para gripe comuns. Pode haver acometimento de nervos importantes do corpo, que ocasiona anestesia de mão e pés, favorecendo traumatismos e ferimentos e leva a um quadro mais grave. O diagnóstico é clínico, feito com base na identificação de lesões cutâneas com ausência de sensibilidade por todo corpo, incluindo as mucosas oral e nasal. O tratamento da hanseníase é baseado em poliquimioterapia (PQT) e no esquema padronizado pela OMS e MS são as drogas: rifampicina (bactericida), dapsona e clofazimina (bacteriostáticos). Esses medicamentos contribuem para a redução das lesões, mas em contrapartida provocam a redução do fluxo salivar, o que aumenta o risco ao paciente desenvolver infecções na cavidade oral. Além desses efeitos colaterais, o paciente portador da hanseníase pode ter sequelas neurais e físicas irreversíveis que dificultam ou até impossibilitam o uso da escova de dente convencional e o fio dental. As incapacidades provocadas prejudicam a vida social e a qualidade de vida dos indivíduos afetados por elas. O dano aos nervos cranianos, como o trigêmeo e facial, pode afetar a cavidade bucal com a parestesia do lado comprometido. Quando os ramos mandibular e bucal são comprometidos, causam alterações na fala e mastigação. As lesões orais são mais evidentes na forma Lepromatosa, apresentando úlceras, pápulas, perfurações, cicatrizes, enantemas, lepromas e erosões superficiais e afetam principalmente o palato duro (75% dos casos). Adicionalmente, alterações esqueléticas podem comprometer o processo pré-maxilar alveolar e quando associadas com a má higienização, podem levar a perda dos incisivos superiores. Portanto, é imprescindível o acompanhamento do cirurgião-dentista durante todo o tratamento afim de reduzir as reações hansênicas desencadeadas por processos inflamatórios provenientes de infecções dentais e/ou doenças periodontais e procurar meios de otimizar a capacidade de higienização do paciente com hanseníase frente as suas condições e limitações por meio de dispositivos que permitam tal ação. É importante que os profissionais da odontologia tenham ciência dos sinais e sintomas relacionados a hanseníase, possibilitando o encaminhamento para diagnóstico e tratamento da doença, além de planejar a conduta adequada para o paciente, levando em consideração suas possíveis limitações e atenção necessária.

Conclusão: a odontologia tem um papel importante na prevenção, diagnóstico e tratamento da hanseníase, e deve ser integrada de forma mais abrangente aos programas de saúde pública e no currículo de odontologia para combater efetivamente esta doença e proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes infectados.

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