Morbimortalidade por Reações em Hanseníase

As reações hansênicas são episódios agudos e podem ocorrer no curso da doença crônica que é a hanseníase. Objetivou-se caracterizar a morbimortalidade por reações em hanseníase, em Rondônia, entre 2008 e 2016. Trata-se de um estudo longitudinal de base populacional. Foram avaliados 1.719 casos de hanseníase em reações, ocorridas durante o tratamento poliquimioterápico e após o tratamento PQT, registrados no SisReação. Realizou-se o relacionamento probabilístico das bases do SisReação, Sinan e SIM. Foi realizada análise descritiva das variáveis, expressas como contagem absoluta e frequência relativa em porcentagens. A precocidade da reação, a partir do diagnóstico, foi analisada usando a função de sobrevida de Kaplan-Meier comparando os grupos paucibacilar (PB) e multibacilar (MB), usando o teste de log-rank de Mantel-Cox. Para identificar os fatores associados à ocorrência da reação (hazard ratio) foram construídos modelos de regressão de Cox univariada e multivariada em IC 95%. Variáveis com valores de p<0,2 na análise univariada foram selecionadas para o modelo multivariado. Foi realizado o método backward stepwise, permanecendo no modelo final aquelas que se mantiveram no valor p <0,05. Além disso, analisou-se as frequências do grau de incapacidade física (no diagnóstico e na reação hansênica) e dos óbitos. Dos 1.719, foram relacionados no Sinan, 1.621(94,3%) e no SIM, 85(4,9%), sendo oito (0,5%) óbitos, entre o total de casos em reação, tiveram como causa básica e associada à hanseníase. Dos 1.621, 144(8,9%) eram PB e 1.477(91,1%) MB. A maioria era do sexo masculino, média de 43 anos, raça/cor parda, ensino fundamental e moradores da zona urbana. Predominou o grupo dimorfo e a baciloscopia foi realizada em 74,9% do total de pacientes, com resultado negativo em 39,6% entre os MB. Os tipos de reações, neurite isolada e reação reversa foram mais frequentes. As reações hansênicas ocorreram durante o tratamento em 997(61,5%) e 624(38,5%) somente após o término do tratamento PQT. Os PB desenvolveram a reação hansênica de forma mais precoce do que os MB. Outras características associaram-se à ocorrência da reação em menor tempo: sexo feminino e baciloscopia negativa. No período agregado (durante + após PQT), os pacientes PB apresentaram risco 24% maior de reação do que os multibacilares e naqueles com baciloscopia negativa aumentaram este risco em 40%, comparada à baciloscopia positiva. Durante e após o tratamento PQT, os PB apresentaram 1,3 e 1,6 vezes maior risco de ocorrência da reação dos pacientes MB. Os pacientes MB em reação evoluíram para piora do grau de incapacidade física numa proporção maior que os PB, sobretudo àqueles que já iniciaram a poliquimioterapia com déficit neural. O óbito por causa básica e associada à hanseníase em reação foi pouco frequente. O presente estudo pode auxiliar nas medidas de vigilância das reações durante e após o término do tratamento, visando prevenir incapacidades físicas e melhoria da qualidade de vida das pessoas acometidas pela hanseníase.

English abstract:

Leprosy reactions are acute episodes and can occur in the course of the chronic disease that is leprosy. The objective was to characterize the morbidity and mortality due to reactions in leprosy, in Rondônia, between 2008 and 2016. This is a longitudinal population-based study. A total of 1,719 cases of leprosy in reactions that occurred during polychemotherapeutic treatment and after MDT, registered in SisReação, were evaluated. The probabilistic relationship of the SisReação, Sinan and SIM bases was carried out. Descriptive analysis of variables was performed, expressed as absolute count and relative frequency in percentages. The precocity of the reaction, from diagnosis, was analyzed using the Kaplan-Meier survival function comparing the paucibacillary (PB) and multibacillary (MB) groups, using the log-rank test of Mantel-Cox. To identify the factors associated with the occurrence of the reaction (hazard ratio), univariate and multivariate Cox regression models in 95% CI were constructed. Variables with p values <0.2 in the univariate analysis were selected for the multivariate model. The backward stepwise method was used, with those that remained at p <0.05 in the final model. In addition, the frequencies of the degree of physical disability (in diagnosis and in leprosy reaction) and deaths were analyzed. Of the 1,719, 1,621 (94.3%) were listed in Sinan, and 85 (4.9%) in SIM, with eight (0.5%) deaths having as the underlying cause and associated with leprosy in reaction. Of the 1,621, 144 (8.9%) were PB and 1,477 (91.1%) were MB. Most were male, mean age 43, mixed race/color, elementary school and urban dwellers. The borderline group predominated and bacilloscopy was performed in 74.9% of all patients, with a negative result in 39.6% among MB. The types of reactions, isolated neuritis and reverse reaction were more frequent. Leprosy reactions occurred during treatment in 997 (61.5%) and 624 (38.5%) only after the end of MDT treatment. PBs developed the leprosy reaction earlier than MB. Other characteristics were associated with the occurrence of the reaction in a shorter time: female gender and negative bacilloscopy. In the aggregated period (during + after MDT), PB patients had a 24% higher risk of reaction than multibacillary patients, and those with negative sputum smear microscopy increased this risk by 40% compared to positive smear microscopy. During and after MDT treatment, PB had 1.3 and 1.6 times greater risk of occurrence of the reaction than MB patients. MB patients in reaction progressed to a greater degree of physical disability worsening than PB patients, especially those who had already started polychemotherapy with a neural deficit. Death from an underlying cause and associated with leprosy in reaction was infrequent. The present study can help to monitor reactions during and after the end of treatment, aiming to prevent physical disabilities and improve the quality of life of people affected by leprosy.